18 de setembro de 2015

Os casais imaginários.





(Para a Rita e o Nuno, a pensar do dia de amanhã)




O que mais enche a vida real é o terreno imenso do impossível.
Custa sabê-lo, mas quase tudo na vida é irrealizável,
Tudo o que se deixa fazer nunca são mais que pequenas ilhas
Dispersas no imenso deserto do concreto.
Mas é no estreito arquipélago do possível
Que habitam os casais imaginários,
Os que através de uma alcançam outra ilha, e daí outra,
Atravessando os afazeres diários,
Como se a volta completa ao mundo ou uma milha
Fossem afinal iguais distâncias, igualmente leves,
Igualmente curtas, dores tão breves
Como as lutas, tão serenas como as searas.
Os casais imaginários são únicos
Em não haver no mundo hipóteses mais claras:
Inventam-se a cada hora, ressuscitam
Nas ideias que fazem de si mesmos como pares amorosos
Inteiros e novidosos; a cada madrugada elevam as suas vozes
Contra a força do vácuo, evitando que se deslacem as pedras do mundo
Por fazer, impedindo que fique apenas em potência
Qualquer coisa que mereça inegavelmente acontecer.



(foto de Porfírio Silva sobre escultura de Cutileiro)

Sem comentários: