14 de novembro de 2015

Copernic à Paris



Copérnico destruiu aquela ordem dos mundos
Responsável por ligar as teorias do além e do aquém,
Unir a teologia à antropologia numa régua única
E manter em ordem a fantástica harmonia.
Copérnico inventou a bomba de fragmentação
Que desalinhou os centros das esferas,
Que extraiu de uma humanidade una uma humanidade plural,
Da sua jaula inúmeras e desconhecidas feras,
Do homem fechado um universo infinito,
Empurrando como um êmbolo pelas vias tortuosas do tempo
Um encontro áspero entre pastores, recolectores e agricultores
Que nada mais partilham que a medonha impreparação para acolher
Modos diversos e desconhecidos de prover ao próprio sustento.
O pensamento coalhou
Em linhas imaginárias entre terras tão contínuas à face da Terra.
Há agora fragmentos de fronteiras cravados
Em cada centímetro de pele
Em cada segundo de tempo
Do nosso tempo
Da nossa carne.
Há agora um tempo dentro,
Um tempo denso,
Para procurar perto e longe
O defeito arquitectónico na dor que nos divide.


(pelo 13 de Novembro de 2015)

Sem comentários: