7 de agosto de 2014
a invenção de Apolo
Delos, exausto no teu seio, pergunto-te: como pôde
uma ilha inteira sem uma sombra
tornar-se uma casa de deuses?
Respondes-me, muito mais claramente que o oráculo,
em prosa,
porque a poesia é para as questões inúteis e obscuras,
que um santuário é um campo de batalha
onde os deuses nos venceram,
uma ilha purificada pela proibição de nascer e de morrer.
Um santuário é uma promessa de deserto.
Delos, exausto no teu ventre, pergunto-te: como pôde
uma ilha cercada de ausências,
sem plantas nem carneiros, sem mel nem vinho,
como pôde a aridez em símbolo produzir deuses?
E Delos responde-me que Apolo
fez o centro do mundo, um nada em pedra,
com a matéria do lugar geométrico do melhor cruzamento das rotas.
E Apolo levanta-se do túmulo para protestar
que culpa pode um pobre deus ter
de terem feito do seu templo
o primeiro banco da Antiguidade.
(Tinos e Delos, 28, 29 e 30 de Julho de 2014)
Imagem: lugar do templo de Apolo em Delos
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