30 de dezembro de 2025

alguns costumes das pedras


 



 (com Cinthia Marcelle em Serralves)


Chegámos ao tempo em que 3 segundos te parecem tempo demais para ouvir uma palavra nova, como um passo em falso para onde vais empurrado violentamente e de surpresa. 


Chegámos ao tempo em que não suportas os 3 segundos que os teus olhos pedem para processar o escuro e o teu cérebro trabalha em todos os vectores para retomar a navegação. 


Chegámos ao tempo em que 3 segundos de espera são um preço demasiado alto e incompreensível por um encontro com um desconhecido vindo de longe, com outra língua e outra tribo na bagagem.


Chegámos ao tempo em que tomas 3 segundos a entender que ninguém é profeta na sua própria terra, que é o tempo que demoras a ponderar a missão de converter quem quer que seja a um credo qualquer. 


Eis-nos aterrados no tempo em que 3 segundos é todo um ciclo de expectativas, avançando e recuando entre o declive ascendente do desejo e o fim do sopro e a desilusão. 


Este é o tempo deserto em que alguns costumes das pedras se perderam na voracidade da moral dominante.



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