10 de maio de 2020

emergência, 15


na ilha de prinkipo, no mar de mármara,
a seis horas de viagem da peste em istambul,
o embaixador dos habsburgos na corte de solimão,
como milhões antes e milhões depois,
via a doença como sopro do oriente.
1561 não é longe nem perto: estamos lá cada dia
em que culpamos alá, o diabo, o velho cansado
nas escadas da igreja de alessandro manzoni e milão,
o oriente, os nómadas seculares entre nós.
1561 não é ontem nem amanhã: habitamos cada peste
como órfãos dos nossos vizinhos
e algozes das leis escritas em tempos de abundância.
se alexandria do egipto já não é de toda a orbe
o principal escritório de quarentena
é porque a fronteira entre o dentro e o fora
é linha que risca agora cada uma das nossas casas,
cada uma das nossas terras,
que quebra hoje cada uma das nossas asas,
soprando para longe cada certeza
com uma dor imprecisa como nuvem que se mascara.
a dor de entrar na história universal
como mais um grande romance.

- - -
10 de Maio de 2020, oitavo dia depois do estado de emergência
(depois de ler Orhan Pamuk)

Sem comentários: