22 de novembro de 2017

por falar em museus



Um museu da aeronáutica devia voar,
para não fixar em terra os seres alados que celebra,
os homens e as mulheres que se metem nas máquinas aéreas.
Um museu da ferrovia devia fazer-se material circulante,
atravessar o país de lés a lés, talvez para lá das fronteiras,
abrir as suas portas sempre numa estação diferente,
levando vagas viajantes de uma terra para outra,
fazendo do museu dos comboios composição em movimento.
Um museu marítimo devia ser húmido,
construído nas águas, cercado por águas,
onde barcos vogassem lado a lado com peixes,
moluscos, pássaros marinhos, sereias se as houvesse,
abrindo portas por onde se entrasse nadando
e onde fossem grandes as aflições de quem ainda
ou já não
soubesse nadar,
esse movimento próprio de visitar o que ao mar pertence.
Um amor, ou mesmo uma amizade, devia calcorrear o mar,
onde encontraria o museu marítimo,
furar o ar,
onde se cruzaria com o museu da aeronáutica,
circular pelas terras do país, e vizinhas,
atravancando passagens de nível com o museu ferroviário,
fazendo jus ao seu carácter migrante.
Um amor, ou mesmo uma amizade,
não é ser que possa ficar quedo, expectante,
preferindo descarrilar.
E, claro, um amor, ou mesmo uma amizade,
nunca deveria ser exactamente um museu.

Sem comentários: