Iolanta, em Tchaikovski
O rei não autoriza que saibas da cegueira.
Da tua cegueira.
Organiza o reino, o mundo, a corte,
o discurso vigiado da aurora ao ocaso,
a casa como um teatro
para que não saibas que os olhos
não servem só para chorar.
Que não te falem da luz, nem da beleza,
nem de um je ne sais quoi cuja falta pressentes.
Que os olhos sós não vêem,
como as máquinas fotográficas não vêem.
Da diferença
entre uma rosa branca e uma vermelha,
que escapa
à polpa dos dedos.
De como se pode saber que alguém chora
sem tocar as lágrimas nos seus olhos.
(Nunca esqueças
que quase tudo na civilização é indirecto.)
Iolanta: teu pai, René de Provença
não te protege da tua cegueira:
protege o rei do feroz esplendor
de no mundo conviver com a dor.
Protege do mundo o protector,
a versão romanesca da falsa consciência de classe.
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