2 de junho de 2020

emergência, 17



há uma imensa nave do tempo presente
sobrevoando as nossas cidades.
este pequeno dia em frente dos teus olhos,
este curto agora – cega.
nele investimos todo o intenso esforço da urgência
todos os remos contra o naufrágio no inesperado
enquanto cresce olvidado o lento amadurecimento
dos cereais roxos da seara dos venenos
o lento amadurecimento das gerações por vir
a astuta seta da impensada entropia:
o pássaro voa nas correntes quentes da inércia
as asas, hirtas, já não fecham
entramos num voo eterno sem ginete
doridos do passado, doridos do futuro
o presente trabalhando com afinco como o grande distractor.

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2 de Junho de 2020, trinta e um dias depois do estado de emergência

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