17 de janeiro de 2020

as letras de Cláudio de Roma



Depois de Calígula, que se fez famoso
pelas intrigas sexuais e pelas caprichosas execuções,
e antes de Nero, a quem tudo corria de feição nos jogos olímpicos,
a ponto de vencer até a corrida de carros de dez cavalos,
antes de fazer uma grande fogueira em Roma,

entre Calígula e Nero,
Cláudio, encravado numa dinastia encravada numa república,
acrescentou ao alfabeto romano três letras novas,
das quais nenhuma lhe sobreviveu.
Sobreviveram-lhe os portos renovados, as estradas e os aquedutos,
uma porção maior da Britânia conquistada,
tudo partes rígidas do mundo, sólidas, concretas, práticas,

mas não lhe sobreviveram as três luminosas letras novas no alfabeto romano.
Não sei como se pronunciavam,
como encadeavam as suas rodas dentadas na máquina da linguagem,
no funcionamento geral do latim,
se chegaram ao latim vulgar da Ibéria ou se ficaram nos gramáticos.
Sei que ainda não existiam no tempo de Calígula
e já não existiam no tempo de Nero.
Nada de novo, pois esse é em regra o modo próprio de existência
de quase todas as mobílias do mundo
que passam por nós no momento presente
com o ar glorioso de quem viaja constantemente
entre a eternidade futura e a eternidade passada,

sem que mudem um dia que seja 
do calendário da tua vida.

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