28 de março de 2016

O astronauta de Salamanca








visitar a catedral salmantina em dia de peregrinação
e ver um Neil Alden Armstrong flutuar em pedra dura
entre densa flora e fauna na fachada plateresca da Porta de Ramos

viajar de tão longe exactamente à entrada norte, virada
ao palácio de Anaya,onde o astronauta pousa à chuva e ao sol
num emaranhado de representações mais tenso que a superfície lunar

para ouvir o silêncio do canteiro Miguel Romero no burburinho
das interpretações, preso pela mão ao ano do restauro enquanto viajam
no tempo do enigma os sequiosos da história que falha às suas vidas

para ouvir o concreto pedreiro esquecido na filigrana das crenças,
na turbamulta que deixou de desenhar trajectos na crosta do mundo,
de esculpir desejados anacronismos na superfície danificada da matéria


(Páscoa 2016)

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