10 de dezembro de 2011

o mar visto do homem que tinha um farol



Ficam proibidas as cenas de nudez. Solitária que seja.
Proibidas, as cenas calculadas para enviar
informações ao inimigo. As coisas contidas na própria
ossatura do momento e que falam da pátria
o que nem os da pátria ousam saber, restringidas.
Precauções, todas as dos tempos. Proibidas,
as cenas de sexo. Interdito, para maior cobertura,
fica o próprio sexo.
Interditas desde este momento se encontram para o futuro
as informações, e os inimigos como seus destinatários correntes.
Proibir os inimigos é perseguir a paz, decerto.
Por mor de uma cautela superior, será declarada a abolição
das cenas todas e em geral. E extintas as suas agências,
pessoas que poderiam encorpar nos cenários.
Com ou sem roupa, afinal nesta doutrina tudo
é igualmente pornográfico e inimigo.
Todos, nesta teoria das colónias, veiculam informação
ameaçadora, plasmada na face pelo espanto,
traindo a felicidade consentida.
Alínea, essas pessoas declaradas extintas,
extintas, o verbo regula, pessoas extintas,
essas pessoas extintas são todas, em número,
as concebíveis. Ficam os anjos.
E as virtudes.
Fiquem os silêncios.
E os ácaros.

4 comentários:

Pedro Ludgero disse...

Magnífico.

Porfirio Silva disse...

Obrigado, pessoa do tempo de paz.

Anónimo disse...

Moro sozinha numa ilha próxima. Naveguei até cá para lhe fazer saber que avisto a luz daqui emitida e para a agradecer. Estou ilhada, não naufragada. E embora não necessite de ser socorrida conforta-me saber que existe. Que está aí no cimo do seu farol rastreando, vigiando, focando assuntos do dia e da noite necessários ou contingentes. Entre uns e outros também há poesia. Gostei:-)

Porfirio Silva disse...

Coração de Maçã, saiba que gosto de partilhar a luz do farol com pessoas que nos falam das ilhas. E gosto de saber que não precisa de ser socorrida! :-)))